(...)
Enquanto tomava banho me vieram estes pensamentos que são reais, dividi com a minha irmã Jéssica Mondlane e agora vou dividir com vocês !
'' Eu tinha apenas 5 anos quando aos poucos fui criando a paixão pela Medicina, cresci numa família sem médicos e num país onde 1 médico está para 10.000 doentes (pois triste realidade) ' acabei o secundário e não via a hora de finalmente realizar o grande sonho que desde pequena carregava comigo. Entrei na melhor universidade da minha cidade e fiz a Medicina cheia de garra e determinação, me fechei para o mundo e foquei-me apenas na Medicina, afastei-me dos meus amigos e de tudo que eu gostava e criei um novo mundo para mim, onde só existia eu e a minha sede pela profissão. Terminei o curso com sucesso e quando olhei para os lados tinha apenas os meus pais orgulhosos, os livros e uma mente rica em ensinamentos mas olhei para trás e vi o reflexo de uma mulher que ainda ontem tinha apenas 5 anos, sozinha sem amigos e com uma vida preto e branco. O tempo se passou e lá estava eu dando consultas e com novos sonhos, fazer a minha especialidade. A verdade é que a minha ambição pela Medicina era tanta que engravidei de um homem que eu nem amava, logo eu, que, sempre sonhei com um príncipe encantado, daí a falta de amor e compreensão acabou com a relação e lá estava eu de novo sozinha, mas desta vez com um filho na barriga. Os meses se passaram, o meu menino nasceu prematuro, pois eu não repousava e passava noites em claro lendo livros sobre Medicina para destacar-me sempre no meu sector profissional. O meu filho foi crescendo recebendo de mim apenas um beijinho de bom dia e um de boa noite, ele já está com um ano de idade, ta grande, saudável e lindo como o pai que eu nunca amei. A verdade é que nunca me dei um minuto para ser mãe pois estava preocupada em ser Deus da minha população. O tempo foi passando e o meu filho foi crescendo e finalmente consegui uma bolsa para ir ao exterior e fazer a minha especialidade, o meu filho já estava com 3 anos, fui embora sem pensar duas vezes e o deixei com a minha mãe. Cá estou eu de volta a minha cidade depois de quatro anos, está tudo na mesma cidade, os buracos nas ruas, os lixos acumulados (realmente estou de volta a casa). Vou a casa da minha mãe buscar meu filho que está agora com 7 anos, já é um menino e está na segunda classe, no caminho para lá lembrei-me que não me dei tempo para comprar nem um presentinho para ele (lágrimas), lá vou eu ao shopping mais perto e carrego monte de brinquedos e roupas, embrulhei tudo e fui buscar meu menino. Ele quando me viu nem me reconheceu, a minha mãe teve que dizer : ''Miguel, ali está a tua mãe, já chegou de viagem'' (a pedalada foi tão forte que não consegui conter as lágrimas) e ele deu-me um abraço bem forte de saudades, aí eu disse comprei um monte de presentes, mas no momento nem me dei conta que não estava falar com aquele bebé que eu deixei a 4 anos mas sim com um menino e tudo que comprara jamais o serviria e pela idade dele ele jamais ia brincar com aqueles brinquedos (meus olhos encheram-se de lágrimas), e eu pedi perdão ao meu filho e o prometi ir as compras com ele onde ele ia poder comprar tudo que quisesse, ele mostrou uma cara de desgosto e sem interesse nenhum pelas minhas palavras. Voltamos para casa e dia seguinte tive que fazer umas mudanças em seu quarto ao gosto dele. Chegou a época do Natal e eu disse ao Miguel para escolher o seu presente, e faltando dois dias para o Natal ele escreveu-me uma carta que dizia : '' Querido Pai Natal, peço para falar com Deus em meu nome e pedir desculpas a ele se um dia eu tiver errado. Neste Natal eu não vou mudar o pedido que tenho feito todos estes anos, mas volto a repetir, eu quero que o Pai Natal me ofereça uma mãe de verdade igual a dos meus colegas lá da escola. '' depois de eu ter lido a carta o meu coração parou por 5 segundos, me senti aos pedaços e sem chão. Dia seguinte dei bom dia ao meu filho e nem sequer comentei sobre a carta, e nessa manhã me apercebi que o meu filho nunca me chamara de mãe mas sim de Doutora (baixei a cabeça e fui trabalhar). Chegou o Natal, família reunida e alegria na cara dos meus familiares, o Pai do Miguel ofereceu-lhe uma linda bicicleta e um novo equipamento de futebol porque ele amava jogar a bola (descobri que o pai conhece bem o seu filho melhor que eu), eu ofereci-lhe um computador com jogos já instalados, ele amou, fiquei aliviada por ele ter gostado. Os anos foram passando e nunca comentei sobre a carta que o Miguel me escrevera, diminui as minhas horas de trabalho e já me dava tempo para passear e fazer programas de mãe e filho e assim aos poucos a alegria entrara em minha casa (um sorriso forçado de contenção) . Hoje estou com 45 anos e meu filho acabou o secundário, mas ele nunca falou-me sobre o curso que ia seguir, até que um dia eu o perguntei e ele disse que queria fazer Medicina, para ser médico e finalmente entender a sua mãe. Fiquei tão espantada que os meus pés até tremiam, olhei para ele e disse : '' Eu falhei um dia, não fui suficientemente mãe para ti mas não cometa o mesmo erro que eu e seja um pai completo. A Medicina é um curso de amor, faça-o por gostar e para salvar vidas mas jamais deixe que ela esteja acima da tua própria vida. '' . E com um longo sorriso o Miguel diz: ''Obrigado MÃE'' (era a primeira vez que ele me chamara de mãe), abracei-lhe com tanta força e disse: ''Amo-te FILHO'' (era a primeira vez que eu dizia que amava ao meu filho)
Espero que tenham entendido a mensagem !!
Autora do texto: Muty Mondlane
^.^